Brasília – As companhias multinacionais Hyundai (de capital
coreano); British Gas (inglesa); General Eletric e Boeing (ambas de
capital norte-americano) vão oferecer, a partir do próximo mês, 400
vagas em seus centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para
estudantes brasileiros das áreas tecnológicas que estão no exterior como
bolsistas do Programa Ciência sem Fronteiras (PCsF).
A informação é do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva. Segundo ele, “os
estágios serão oferecidos no período de férias no Hemisfério Norte
(julho a setembro)”. Atualmente, há cerca de 4 mil bolsistas do PCsF no
exterior. O programa abrange alunos de graduação e pós-doutores.
Além de estágio em multinacionais, o governo também tenta costurar o
patrocínio de bolsas e oferta de estágios e empregos aos bolsistas
egressos do PCsF em empresas brasileiras. Um quarto de todas as bolsas
do programa (26 mil bolsas) deverão ser fornecidas por companhias
estatais e privadas.
Até o momento, apenas a Petrobras assinou contrato para a
transferência de recursos para o programa (R$ 75 milhões). A expectativa
é que a Vale e a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de
Base (Abdib) assinem em breve contratos semelhantes.
O governo quer ainda o acolhimento direto de estudantes do PCsF
pelas empresas e entidades corporativas. A Confederação Nacional da
Indústria (CNI), por exemplo, mesmo oferecendo 5 mil bolsas, deverá
envolver as pequenas e médias empresas na seleção de bolsistas, disse o
presidente do CNPq à Agência Brasil, após participar, no Senado Federal, do seminário Caminhos para a Inovação.
Apesar do anunciado envolvimento das empresas no Programa Ciência
sem Fronteiras, as companhias brasileiras foram criticadas no seminário
pela falta de inovação tecnológica e escasso investimento em pesquisa e
desenvolvimento. “ É um absurdo ainda ter que dizer que inovação é
importante”, disse o senador Cristovam Buarque (PDT-AM) ao ressaltar que
as empresas têm preocupação em fornecer “produtos made in Brazil [fabricados no Brasil], mas não created in Brazil [criados no Brasil]”.
O físico Marcelo Gleiser falou sobre a baixa performance das empresas brasileiras e lembrou que no ranking
de 59 países mais ricos (dados do World Competitives Yearbook 2012) o
Brasil é apontado como 54º em educação e inovação, e o sexto na geração
de empregos. “Os brasileiros estão trabalhando, mas não na área de
ciência e tecnologia”, ressaltou.
Para o engenheiro Marcelo Sampaio de Alencar, do Centro de Ciências e
Tecnologia da Universidade Federal de Campina Grande, as empresas não
se interessam em parcerias com as universidades para inovar processos e
produtos, mas apenas diminuir a incidência de impostos. “O estímulo
empresarial é a renúncia fiscal. Eles estão viciados, e só vão às
universidades à procura disso”, disse.
A meta do governo é fazer com que, até 2014, 5 mil empresas privadas
tenham processos contínuos de pesquisa e desenvolvimento. “As empresas
produtoras de bens e serviços devem necessariamente aprofundar seu
compromisso com o desenvolvimento de novas tecnologias, financiando e
realizando P&D posteriores à pesquisa básica e aplicada”, defendeu
Luiz Antonio Elias, secretário executivo do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação.
Além da baixa inovação das empresas brasileiras, é pequena a
participação dos cientistas na criação de tecnologias. Dos total de 2,6
milhões de currículos de pesquisadores registrados na Plataforma Lattes
do CNPq, apenas 0,34% (8.954 pesquisadores) informa ter feito pedido de
patente registrado.
Por Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
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