Brasília – O governo federal marcou para o dia 18 de junho a data de
ascensão de 2 milhões de famílias brasileiras para cima da linha de
pobreza. Nessa data, as famílias consideradas miseráveis (identificadas
no Cadastro Único), com crianças até seis anos, começarão a receber o
chamado Benefício de Superação da Extrema Pobreza para completar a renda
domiciliar de R$ 70 per capita.
Restam, no entanto, mais 2 milhões de famílias, segundo projeção
inicial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita
à época da definição das metas do Programa Brasil sem Miséria. Alcançar
essas pessoas é desafio para os três níveis de governo, que deveriam
reverter a invisibilidade social que contribui para afastar setores da
população brasileira das políticas públicas (como o Programa Bolsa
Família), diz o psicólogo Fernando Braga da Costa, autor do livro Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social.
“A invisibilidade está presente de tal forma que se tornou algo
normal. O fato de ser normal não quer dizer mais nada além do fato de
que estamos habituados”, acrescenta. Para Costa, o Estado no Brasil está
localizado de forma tão longínqua dos cidadãos que parece muito mais um
jogo de esconde-esconde. “O Estado não cuida dessas pessoas porque não
há interesse humano nisso” e “acaba prevalecendo o interesse de uma
classe hegemônica dominante”.
O governo estima que, até dezembro, 800 mil famílias em situação de
extrema pobreza serão identificadas pela mobilização da busca ativa nos
municípios. Apesar de a meta estar antecipada em um ano, não há certeza
se esse número (projetado pelo IBGE) esgota o índice de famílias
miseráveis no país. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza
Campello, admite a dificuldade de localização em função do perfil da
população. “Essas pessoas que ainda não recebem o Bolsa Família são as
mais pobres dos pobres,
precisam ser acolhidas pelo Estado e nós estamos
indo atrás”, disse ela, em entrevista coletiva na semana passada para o
balanço de um ano do Programa Brasil sem Miséria.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, a maioria das 687 mil famílias em situação de extrema
pobreza e ainda não assistida por políticas públicas (localizadas no
último ano pela busca ativa) está nos centros urbanos (75%), inclusive
em cidades com mais de 100 mil habitantes (39%). “Os miseráveis estão
nas periferias ou mesmo nos centros velhos das grandes cidades. Esses
sujeitos estão fora do sistema, mas tentando o tempo todo ingressar
nele”, lembra Fernando da Costa.
Segundo ele, em contraste à dificuldade de percepção e lentidão do Estado, o mercado está atento às periferias. “Os shoppings centers
identificaram potencial de lucro”, disse, referindo-se à abertura de
centros comercias em regiões habitadas por classes econômicas de menor
poder aquisitivo na cidade de São Paulo.
Repórter da Agência Brasil
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