Brasília – O uso indiscriminado de medicamentos, sobretudo
antibióticos, aumenta de forma considerável o risco de casos de
superbactérias – micro-organismos resistentes à maior parte dos
tratamentos disponíveis. O alerta é do diretor da Sociedade Brasileira
de Infectologia, Marcos Antonio Cyrillo.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 440 mil casos
de tuberculose resistente são registrados no mundo todos os anos, além
de cerca de 150 mil mortes decorrentes de infecções por superbactérias.
“Não há hospital livre disso. Lógico que um hospital de grande porte e
de alta complexidade ou um hospital universitário com vários leitos de
UTI [unidade de terapia intensiva] e que interna pacientes com cirurgias
complicadas são o tipo de lugar que pode ter mais bactérias
resistentes. Mas nenhum hospital ou casa de repouso com longa
permanência está livre disso”, observou Cyrillo.
Para o infectologista, o uso indiscriminado de antibióticos configura,
de certa forma, um problema cultural, já que o profissional de saúde se
sente mais seguro ao receitar o medicamento. “Ele acha que está fazendo
um bem para o paciente, mas vários fatores precisam ser levados em conta
na hora de fazer um programa de prevenção e também de orientação para o
uso de antibiótico”, reforçou.
Na tentativa de conter os casos de superbactéria no Brasil, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que a venda de
antibióticos só pode ser feita com a apresentação de duas vias da
receita médica. O objetivo, de acordo com a gerente de Vigilância e
Monitoramento em Serviços de Saúde, Magda Machado, é restringir a
automedicação, já que uma via fica retida pelo estabelecimento.
Ela lembrou que, após os casos da superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase)
registrados no país nos últimos anos, a Anvisa editou uma nota técnica
que trata da identificação, prevenção e controle de infecções
relacionadas a micro-organismos multirresistentes. Entre as
obrigatoriedades nas unidades de saúde está a higienização das mãos por
meio do uso de álcool em gel por profissionais de saúde e visitantes.
Francisca Silva, 52 anos, é representante de laboratório e tem medo de
contrair qualquer tipo de infecção resistente a medicamentos. “Tomo
certos cuidados com a higiene porque trabalho em hospital e, por isso,
estamos suscetíveis a todo tipo de contaminação. Procuro me proteger de
qualquer uma delas”, contou.
A dona de casa Andreia Queiroz da Silva, 34 anos, tem lúpus, doença que
compromete o sistema imunológico, e também se preocupa em manter
hábitos como lavar as mãos com água e sabão quando frequenta unidades de
saúde. “Acho que está faltando informação sobre essa superbactéria. Nos
hospitais, é comum vermos panfletos com orientações sobre a
higienização das mãos, mas muita gente não segue.”
Cleide Teixeira, 39 anos, é enfermeira e trabalha há 19 anos na mesma
unidade de saúde.
Além da higienização das mãos, ela usa luvas
cirúrgicas descartáveis como alternativa para se proteger e proteger os
pacientes de micro-organismos multirresistentes. “Nós, profissionais de
saúde, estamos expostos a qualquer tipo de doenças. Temos a obrigação de
evitar que os pacientes sejam contaminados”, avaliou.
Por Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
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