Brasília - A insatisfação dos usuários de transporte aéreo está
associada principalmente a problemas de atrasos de voos, desvio ou
extravio de bagagens, baixo índice de solução das queixas contra
empresas aéreas e à falta de transparência de dados da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac). Os dados foram apresentados ontem (28), em
audiência pública no Senado, por representantes de entidades de defesa
do consumidor.
“Meu atraso a esta audiência se deve ao fato de eu ter vindo de
avião”, disse a gerente jurídica do Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec), Maria Elisa Novais, ao iniciar sua exposição. Segundo
ela, “o consumidor não é bem atendido e não está contente com [o alto
índice de] cancelamentos, atrasos, overbooking (venda de bilhetes acima do número de assentos disponíveis), furtos ou extravio de bagagens e com a falta de informações”.
A gerente do Idec disse ainda ter enviado, em meados de 2011, uma
carta à Anac solicitando informações como número de atrasos de voos e
índice de passageiros vítimas de problemas com bagagens. “Até hoje essa
carta não foi respondida”, lembrou.
Ela acrescentou que “quem tem problema de furto ou extravio de
bagagens simplesmente não consegue resolver a questão, porque a empresa
simplesmente não tenta solucionar esse tipo de problema. Só consegue
[algum tipo de solução] o passageiro que recorre à Justiça. Temos de
evitar isso e resolver essa questão administrativamente”.
Na carta enviada à Anac, o Idec solicitou – e também não obteve
resposta – informações simples, como o total de multas aplicadas e a
quantia efetivamente recolhida pela entidade a partir das multas. “Falta
transparência, falta fiscalização da Anac, punição eficaz às empresas
aéreas e falta solução dos problemas. Além disso, são grandes as
dificuldades do consumidor em fazer as reclamações de forma prática”.
Segundo Maria Elisa, o índice de insatisfação com as empresas é bastante
alto.
“O índice de atrasos não é tão grande. A senhora tirou esses números
da sua cabeça", rebateu o representante do Sindicato Nacional das
Empresas Aeroviárias (Snea), José Márcio Monsão Mollo. "Além disso, as
comparações têm de ser feitas com países de perfil similar ao do
Brasil”, acrescentou.
Segundo ele, "apenas" 35% dos atrasos podem ser atribuídos às
empresas . “O restante pode estar relacionados a fatores meteorológicos
ou a problemas de infraestrutura”, disse. “E as punições da Anac vêm
aumentando ano a ano”.
Tendo por base números apresentados pela Secretaria de Aviação Civil
(SAC), Mollo disse que boa parte do valor das tarifas se deve aos
gastos das empresas com combustível (32% do custo total das empresas) e
aos encargos com pessoal (19%).
A diretora do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do
Ministério da Justiça, Juliana Pereira da Silva, iniciou sua
participação com uma crítica à forma como o representante das empresas
aeroviárias se dirigiu à gerente do Idec. “Assim como boa parte dos
passageiros insatisfeitos, ela [Maria Elisa Novais] fez um desabafo. E,
assim como as empresas precisam ouvir [os usuários insatisfeitos com os
serviços aéreos], o senhor tem de se dispor ao diálogo, que é o
propósito dessa audiência pública”, enfatizou.
Segundo a diretora do MJ, o consumidor sequer tem acesso a
informações acessíveis sobre regras e tarifas aeroportuárias. “Os
procedimentos não são informados e a falta de clareza tem gerado
inúmeros conflitos. Apesar de a legislação prever um prazo de sete dias
para o consumidor arrependido [de alguma compra devolver o produto], não
existe clareza sobre a aplicabilidade disso para o cancelamento da
compra de passagens aéreas”, exemplificou.
Juliana avaliou que o desafio do setor aéreo é, atualmente, o de
melhorar a qualidade dos serviços oferecidos. “Após o período de
ampliação dos acessos [a viagens aéreas], agora precisamos dar qualidade
[aos serviços]”, disse. A superintendente de Regulação Econômica e
Acompanhamento de Mercado da Anac, Danielle Alcântara, informou que o
crescimento do setor no Brasil foi 118% no último ano, contra uma média
mundial de 40%.
“As empresas têm buscado o chamado low cost [custo baixo],
ampliando o tempo de utilização das aeronaves, aumentando a ocupação,
diminuindo o conforto e expandindo os canais de comercialização”, disse a
superintendente.
Por Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
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