Rio de Janeiro – Cerca de 40 integrantes da Estação Antártica
Comandante Ferraz, entre eles pesquisadores e servidores civis da base,
chegaram por volta da 1h15 de hoje (27) à Base Aérea do Galeão, no Rio. O
avião C-130 Hércules, da Força Aérea Brasileira (FAB), decolou de Punta
Arenas, no Chile, na tarde de ontem (26) e, antes de chegar ao Rio, fez
escala em Pelotas (RS) para o desembarque de quatro pesquisadores.
No momento do desembarque no Galeão, no rosto da maioria transparecia o
cansaço. Um dos passageiros chegou a levantar as mãos ao céu, como se
agradecesse por ter chegado bem ao Brasil. A pesquisadora Terezinha
Absher, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ainda estava assustada
ao falar com a imprensa.
“Eu estou assim, porque foi realmente assustador tudo aquilo. Nós
ficamos do lado de fora, vendo a estação pegar fogo. Eu nem vou falar
muito porque ainda estou emocionada. Foi traumatizante porque, há 20
anos, eu trabalho na Antártica, passo muitos meses lá. Era como se fosse
minha casa pegando fogo. A estação é de todos os brasileiros, mas eu me
sentia como se fosse a minha casa. Perdi tudo. Todo o meu material de
pesquisa e todos os objetos particulares. Não sei se voltaria para lá”,
disse Terezinha, que trabalha com invertebrados marinhos.
Jasson Mariano, servidor civil da Marinha na manutenção da base, conta
que ajudou a tentar apagar o incêndio na casa de máquinas. “Fomos
acordados pelo nosso superior, nos chamando apavorado, dizendo que
estava pegando fogo na base. Nós saímos com o uniforme de trabalho e
fomos apoiar o grupo-base para tentar combater o fogo. Tentamos esticar a
mangueira para pegar água do mar com as bombas, mas o incêndio se
propagou muito rápido. A luta foi grande, mas não conseguimos”, relatou
ele, que estava desde novembro na estação e retornaria ao Brasil no fim
de março.
Também servidor da Marinha, Marcos da Conceição, demonstrava muito
cansaço. “A família sempre vinha na minha cabeça. Na cabeça de todos
nós. Estou muito cansado. Está até difícil falar com vocês agora”,
disse.
A bióloga Fernanda Siviero, que estava desde o início do fevereiro na
estação antártica, conta que os integrantes da base passaram por grande
susto. “A gente estava na base quando foi dado o alarme de incêndio, a
gente fez o procedimento de evacuação e ficamos seguros em uma parte da
base [isolada]. Ficamos muito consternados e assustados com essa
situação toda do incêndio. A gente não acreditou, na verdade, que fosse
tomar uma proporção tão grande. Imaginamos que fosse de fácil controle.
Achamos que ia ser só um susto e que, daqui a pouco, estaríamos de
volta. Infelizmente não foi.”
Já o pesquisador da Universidade de São Paulo Caio Cipro lamenta a
perda das amostras de sua pesquisa. “As amostras são insubstituíveis. Eu
estava participando de um projeto de hidrografia e a gente perdeu as
amostras todas que foram coletadas desde dezembro [do ano passado]. Elas
foram perdidas, porque têm que ficar congeladas. Como a estação está
sem energia elétrica, uma vez descongeladas, as amostras não servem
mais”, explicou.
O sargento da Marinha Luciano Gomes Medeiros, que ficou ferido quando
tentava combater o incêndio, foi o último a desembarcar. Com as mãos
enfaixadas, ele foi colocado em uma cadeira de rodas e encaminhado a uma
ambulância, para ser levado ao Hospital Naval Marcílio Dias.
Além de deixar o sargento ferido, o incêndio provocou duas mortes, a do
suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e a do sargento Roberto
Lopes dos Santos, ambos da Marinha.
Por Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
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