Rio de Janeiro - O coordenador do curso de graduação de arquitetura e
urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), Fernando
Betim, disse que as construções sustentáveis envolvem um conjunto de
ações que devem combinar preocupações sociais, ambientais e econômicas.
“Quando nos propomos a construir algo, devemos, já na escolha dos
materiais e processos a serem implementados, conhecer o percurso de cada
elemento que será utilizado em sua fabricação, no seu transporte, no
seu manuseio, no seu consumo de energia, na sua interação construtiva,
na sua manutenção e até no seu descarte”, explicou, em entrevista à Agência Brasil. É importante, acrescentou, que os espaços traduzam os desejos e características da identidade cultural local.
Betim esclareceu que o conceito de sustentabilidade deu a essa
palavra uma dimensão universal “e, de certo modo, atinge a todos, pois
fala da sobrevivência humana no planeta”. Para ele, as edificações e
seus métodos de construção seguem esse caminho.
O professor da PUC-RJ deixou claro que não existe arquitetura ou
materiais sustentáveis mas, sim, ações e relações humanas que se
apropriam dos objetos e espaços de modo sustentável. “Quem garante a
sustentabilidade é a maneira de as pessoas fazerem uso das coisas e este
é o maior desafio: a mudança comportamental. Nossas ações, portanto,
devem ser conduzidas para facilitar e minimizar os impactos no ambiente
que habitamos e compartilhamos com os outros seres. A natureza é um
conceito que nos inclui e como não podemos nos dissociar dela, devemos
aprender a respeitá-la e nos educarmos para preservá-la, usufruindo do
melhor que ela pode oferecer para uma longa sobrevivência da espécie
humana”, disse Betim.
Segundo ele, a característica comum dos brasileiros de conviver em
grupo, coletivamente, é um bom indicio de preparo para uma educação mais
aprofundada dos conceitos de sustentabilidade. Destacou que as moradias
e as pessoas não podem ser analisadas isoladamente, “já que formam uma
rede de interações interdependente e todo sucesso de uma proposta de
equilíbrio social baseado em sustentabilidade só pode vir de um trabalho
de educação, inclusão e cooperação”.
Fernando Betim avaliou que ser sustentável requer equilíbrio em
relação à vida em sociedade, ao ambiente, ao uso dos recursos naturais e
às relações humanas, de modo a garantir a harmonia de cada local. Os
impactos negativos da falta de equilíbrio nessas áreas serão recebidos
em primeiro lugar pelas classes sociais mais desfavorecidas. Ele
alertou, contudo, que como as pessoas vivem em uma rede interligada, os
impactos acabarão atingindo a todos.
As construções fazem parte desse sistema. Por isso, as questões
tecnológicas não podem ser tratadas como prioridade nas construções e,
sim, as boas relações de convívio que os espaços projetados devem
proporcionar. “As técnicas construtivas hoje são universalizadas e
acessíveis”, ressaltou. O professor disse ainda que a questão está mais
ligada às políticas públicas implantadas para moradia e educação, uma
vez que os espaços construídos devem ser dotados de infraestrutura,
serviços, facilidade na manutenção e formação educacional, de modo a
assegurar um convívio coletivo harmônico.
Sob a coordenação de Fernando Betim, o Departamento de Arquitetura
da PUC-RJ desenvolveu o projeto da Casa Viva Sustentável, apresentado no
evento Casa Viva, realizado naquela universidade em abril deste ano. O
modelo de residência ecológica será exibido a cerca de 500 cientistas do
mundo inteiro, no Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o
Desenvolvimento Sustentável, entre os dias 10 e 15 de junho.
O encontro ocorrerá na PUC-RJ e é organizado pelo Conselho
Internacional para a Ciência (Icsu) em parceria com a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a
Federação Mundial de Organizações de Engenharia (WFEO), o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação e a Academia Brasileira de Ciências,
entre outras instituições. A casa terá 70 metros quadrados de área
construída e usará a tecnologia wood frame, baseada em
estrutura de madeira proveniente de reflorestamento. Todo o material que
entra nela, desde a técnica de construção até o produto final, é
sustentável.
Betim disse que após estudos de adequação local e uso, o projeto
“poderá ser encaminhado como referência de uma possível proposta de
ocupação habitacional”. Durante um ano, os pesquisadores e alunos de
diversos departamentos da PUC-RJ vão avaliar se o projeto é durável e
pode ser reproduzido.
Repórter da Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário nesta postagem!