Brasília – Além de aumento salarial e redução da jornada, os
trabalhadores brasileiros querem mais segurança, capacitação
profissional, assistência à saúde, valorização e reconhecimento da
atividade que exercem. Foi o que constatou a Agência Brasil,
que foi às ruas para descobrir se as reivindicações dos trabalhadores
coincidem com as demandas apresentadas pelas centrais sindicais neste 1°
de Maio.
Na pauta de reivindicação dos sindicalistas estão, entre outros pontos,
a redução da taxa de juros, o fim do fator previdenciário, a
valorização das aposentadorias, a igualdade entre homens e mulheres, o
trabalho decente, o fim do imposto sindical e a regulamentação da
terceirização.
Entretanto, as reivindicações que afetam mais diretamente o dia a dia
dos trabalhadores foram as mais citadas pelos entrevistados: a redução
da jornada sem corte de salários, educação e qualificação profissional e
o aumento salarial. Das 13 pessoas ouvidas pela Agência Brasil, seis reclamaram da excessiva jornada de trabalho e nove reivindicaram salários mais altos.
As centrais sindicais pedem ainda a valorização do salário mínimo, que
hoje é R$ 622. Segundo pesquisa do Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o valor deveria ser
aproximadamente R$ 2,4 mil para cobrir todas as necessidades básicas
previstas na Constituição Federal.
Grande parte dos entrevistados declarou que gosta da profissão que
exerce e não quer mudar de área. Entretanto, pede mais valorização e
reconhecimento por aquilo que faz.
Leia, abaixo, as reivindicações dos trabalhadores ouvidos pela Agência Brasil:
"Estou nessa profissão há 20 anos e gosto de trabalhar como vigia de carros. Eu faço meu horário e não gosto de trabalhar para outras pessoas. Já trabalhei com carteira assinada, mas prefiro trabalhar por conta própria. Não pretendo ficar rico com minha profissão, mas com ela é que como e bebo. Parei meus estudos na 3ª série e depois disso nunca mais entrei em uma sala de aula. Estudar é muito bom, mas não dá para estudar e trabalhar. Tive que escolher trabalhar, pois preciso encher minha barriga. Minha família é muito humilde. Pago INSS porque não sei o dia de amanhã. A maior dificuldade no meu trabalho é não ter salário fixo, é muito difícil não ter certeza de quanto vou receber no fim do mês. Não tenho grandes sonhos, tenho orgulho de dizer que sou vigia e lavador de carro: faço exercício, ocupo a mente e ainda ganho dinheiro."
"Muitas coisas precisam ser melhoradas na minha profissão. A quantidade de horas que trabalhamos é excessiva. Não tenho horário fixo de trabalho, dependo da clientela e isso varia muito. Pretendo trabalhar para mim mesma, já abri salão várias vezes, mas nunca deu certo. É muito difícil manter um estabelecimento, além da burocracia que enfrentamos para regularizar o negócio. Espero trabalhar aqui [no salão de beleza] temporariamente, mas da profissão de cabeleira eu não quero sair, faço o que gosto. O maior problema na minha profissão é o baixo salário. Trabalho muito e ganho pouco. A minha profissão prejudica a saúde de alguns profissionais. Problemas como alergias, bursites e tendinites são comuns."
Minha profissão é bem complicada. O trânsito é o pior ponto para quem pilota uma moto. Sem contar que não somos valorizados, o salário é ridículo. Sustentar uma família com R$ 800 ao mês não é fácil. Para melhorar, tudo tem que mudar: questão de respeito, o tempo trabalhado. Trabalho dez horas por dia e, infelizmente, não tenho outra opção. O trabalho é muito arriscado e o perigo é constante. Não temos nenhum tipo de seguro de vida, nem plano de saúde, isso dá insegurança. Como não estudei, tenho que ‘ralar’ em cima da moto mesmo. Nunca consegui prestar atenção nas aulas, me arrependo muito por não ter estudado, talvez tudo fosse diferente, né? Tenho vontade de subir de cargo na empresa que trabalho, mas, para isso, tenho que me especializar em alguma área da mecânica.
"Sou manobrista há quatro meses. Trabalho nove horas por dia com uma
hora de almoço. Antes de conseguir esse trabalho, fazia serviços
esporádicos. Se não fosse manobrista, gostaria de ser motorista ou
vigilante. Gostaria que melhorasse o salário porque ele não é suficiente
para sustentar a família. Nessa profissão, somos discriminados, as
pessoas não respeitam muito. Para completar minha renda, faço outros
trabalhos, como pintura, reparos de casa e serviços de bombeiro
hidráulico. Tenho ensino médio completo. Se pudesse, faria um curso
superior de engenharia mecânica. Tenho vários cursos na área de escolta
armada, de vigilância e carteira de motorista de caminhão. De vez em
quando eu consigo trabalho nessas áreas, mas é difícil, precisa de
indicação. O problema do mercado de trabalho não é a concorrência, mas a
dificuldade para ser selecionado. Se você não conhecer alguém que te
indique, não vai pra frente, fica estagnado. Não importa se você tem
vários cursos, boa qualificação, é preciso ter contatos para conseguir
lugar no mercado de trabalho.
Trabalho como porteiro há seis anos. Antes disso, trabalhava em
fazenda. Estudei até o ensino médio, porque não tinha condições
financeiras para pagar uma faculdade. Já fiz cursos profissionalizantes,
de vigilante, de atendimento ao cliente, de informática. Se eu pudesse
fazer faculdade, faria medicina veterinária. Trabalho de segunda a
sábado, 12 horas por dia, o que é proibido pelo sindicato. O normal é
oito horas. Minha jornada inclui uma hora de almoço e três horas extras.
O salário devia ser melhor. Nossa categoria ganha muito pouco. O
trabalho é tranquilo.
Trabalho como auxiliar de serviços gerais há um ano e seis meses. Antes
disso, trabalhava em um supermercado. Não estou satisfeito com o
trabalho, ganho pouco e é ruim enfrentar o sol quente para varrer a
grama. Tenho curso de vigilante e operador de microcomputador, mas ainda
não consegui oportunidade para trabalhar com essas funções. Acho que
deveria ter mais auxiliares. Aqui, somos apenas três e às vezes o
serviço é pesado. Trabalho oito horas por dia, as horas poderiam ser
reduzidas. Acho que a empresa poderia fornecer material para trabalhar,
como botas e chapéu.
Trabalho como padeiro há 16 anos. Gosto da profissão. Trabalho das 8h
às 16h20. Acho que muita coisa devia ser melhorada, o salário, o
transporte. Eu moro no Itapoã [a cerca de 30 quilômetros do centro de
Brasília], o ônibus vem cheio, demora. Antes de ser padeiro, eu era
ajudante de pedreiro, no Tocantins. Juntando o meu salário e o da minha
esposa, a gente passa ‘arrocho’. Ela é cozinheira, trabalha no Lago
Norte. Estudei só até a 7ªsérie, estava com planos de voltar a estudar
este ano. Mas minha esposa está estudando, então devo retomar esse sonho
mais para frente. Com certeza o estudo vai dar uma condição melhor,
porque, sem isso, eu vou continuar sendo padeiro o resto da vida.
Sou cobradora há um ano e dois meses. Meu trabalho só não é melhor por
causa das condições. Trabalho na linha que vai para Águas Lindas [cidade
do Entorno do Distrito Federal] e a viagem é cansativa, por causa da
pista cheia de buracos. Muitas vezes trabalho 12 horas por dia, o
salário é pouco. Eu não quero passar o resto de minha vida como
cobradora, sou jovem quero uma coisa melhor. Trabalho com carteira
assinada, só que não tenho benefícios como plano de saúde. Na minha
opinião, deveria ter, porque a gente fica muito tempo sentado e acaba
com problemas na coluna. Tem muita gente ‘encostada’ por causa disso. O
prejuízo, infelizmente, a gente carrega nas costas.
Trabalho no Hospital de Base de Brasília, em um hospital privado e no
meu consultório. Tenho 23 anos de formado. A medicina dá muito trabalho,
porque, apesar de você cuidar da saúde [da população], não tem tempo de
cuidar da própria saúde e também não tem tempo de cuidar da família. É
um trabalho que demanda tempo, dedicação, atualização e investimento do
indivíduo e das instituições. É muito bom e gratificante ser médico.
Contudo é preciso conscientizar a população de que os médicos não têm
condições dignas de trabalho. O médico trabalha com jornadas de 20, 40
ou 60 horas semanais, mas, na prática, trabalha de 80 a 100 horas por
semana. Não estamos satisfeitos com o salário. Historicamente, nosso
salário está diminuindo. Eu gosto da minha profissão, mas preciso pagar
contas, como todo mundo. A questão de gostar ou não é secundária,
porque, uma vez que você está trabalhando, assume uma série de
responsabilidades com o seu empregador, com a sua família e com a
comunidade. Ou você abandona a profissão ou tem que cumprir essas
obrigações.
Antes de ser motorista de caminhão eu trabalhei como consultor de
vendas. Trabalhei uns seis anos para outras pessoas, até conseguir
conquistar o meu próprio caminhão. Era um sonho antigo, o primeiro que
comprei foi roubado e não tinha seguro. Agora, comprei outro e sou
realizado profissionalmente. Trabalho cerca de 15 horas por dia, de
segunda a sábado. Enfrento problemas todos os dias, o trânsito de
Brasília é complicado, é difícil achar estacionamentos para caminhões,
sem contar as numerosas vias em que caminhões não podem transitar em
certos horários. A profissão não é valorizada, apesar do trabalho duro
que enfrentamos todos os dias. Faço cerca de 40 entregas por dia. O
salário é baixo, o trabalho, cansativo. Pegamos peso todos os dias,
tenho problemas nas costas e não tenho plano de saúde.
Eu não me sinto realizada profissionalmente somente por um motivo: o
salário poderia ser melhor. O salário mínimo é muito baixo. Para mim,
seria impossível sustentar uma casa e uma família com R$ 622. Porém meu
ambiente de trabalho é maravilhoso.Sempre sonhei em ser secretária, me
identifico muito com a dinâmica do trabalho. Valorizo muito minha
profissão e, por isso, se algum dia eu contratar uma secretária, vou
remunerá-la melhor. Eu gostaria que minha categoria fosse mais
valorizada, pois somos, muitas vezes, porta-vozes e fazemos um tipo de
conexão dentro do ambiente de trabalho. Trabalho como terceirizada e
gostaria que a terceirização fosse regulamentada. Sinto uma enorme
pressão por parte de todo mundo que mora aqui em Brasília. Todos julgam
que é necessário passar em concurso público. Mas acho que não deveríamos
ser obrigados a passar em concurso para ter estabilidade. Acho isso um
grande erro.
Eu gosto do que faço. Vai fazer 30 anos que sou concursada. Não sou
formada. Acho bom o serviço público, mas, para os jovens que estão
começando agora, é sempre bom ter algo a mais. Eles não podem deixar que
o funcionalismo público tome conta, nem se acomodar. Eu gostaria que
houvesse um reajuste na data-base. Eles aumentam para uns e não aumentam
para outros. Acho que tinha que ser para todo mundo. O salário não dá
para tudo, a gente tem que esticar. A jornada de trabalho é oito horas
por dia, segunda a sexta. Não me imagino fazendo outra coisa. Agora,
tudo o que eu quero é conseguir a aposentadoria e viajar um pouco.
"Há quatro anos trabalho como autônomo vendendo pipoca em vários
lugares de Brasília, onde tem movimento eu estou lá. Antes eu trabalhava
de motorista no comércio, o que eu ganhava não dava para sustentar a
família. Trabalhei mais de 20 anos com carteira assinada. Hoje, o que eu
ganho dá para o sustento da casa e ainda pago faculdade para uma filha e
cursinho para a outra. Eu não estudei porque morava na zona rural e só
consegui o ensino fundamental incompleto. Quando mudei para a cidade
tive que trabalhar e não pude mais estudar. Se eu tivesse estudado,
queria ser advogado ou jornalista. Me arrependo muito, por isso, faço de
tudo para os meus filhos estudarem."
Por Roberta Lopes
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
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