Um novo exame de sangue pode ser útil para ajudar os médicos a prever
quem está prestes a sofrer um infarto. A descoberta tem como base um
estudo realizado pelo Instituto Scripps de Pesquisa, de La Rolla, na
Califórnia, divulgado nesta quarta-feira (21), na revista "Science
Translational Medicine".
Durante um infarto – ou ataque cardíaco - a pessoa sente dor no peito
em pontadas, aperto ou queimação e tem sudorese. No Brasil, ao menos 300
mil pessoas morrem por ano em decorrência de doenças do coração, como o
infarto e o AVC, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Os principais fatores de risco são o tabagismo, estresse, pressão alta,
colesterol alto, diabetes, sedentarismo e a história de infarto na
família.
A pesquisa americana conclui que as células provenientes da medula
óssea e que circulam nos vasos sanguíneos de pacientes que sofreram
ataques cardíacos tinham tamanhos diferentes e maiores do que o normal,
além de frequentemente aparecerem com núcleos múltiplos. Isso indica que
elas poderiam sinalizar um risco de ruptura da placa de gordura dentro
da artérie – que causa o infarto.
"A capacidade de diagnosticar um ataque cardíaco iminente tem sido
considerada o 'santo Graal' da medicina cardiovascular", disse ao G1 Eric Topol, principal pesquisador do estudo e diretor do instituto.
Segundo o especialista, a descoberta é importante e “pode ajudar a mudar o futuro da medicina cardiovascular”.
Metodologia
O estudo envolveu 50 pacientes que sofreram infartos em quatro hospitais de San Diego, na Califórnia. Os pesquisadores descobriram que as células do músculo cardíaco e as que circulam nos vasos sanguíneos tinham sido drasticamente alteradas nessa população quando comparado às de pessoas saudáveis.
Com co-autoria de médicos e cientistas da Scripps Health, e de um grupo
de empresas do ramo da saúde, a pesquisa teve financiamento de US$ 2
milhões (R$ 3,6 milhões) do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla
em inglês), dos Estados Unidos.
Os resultados podem ser considerados significativos, se for levado em
conta que mais de 2,5 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofreram um
ataque cardíaco ou um AVC (acidente vascular cerebral), de acordo com
Paddy Bennett, principal pesquisador do Instituto Scripps.
"A esperança é ter este teste desenvolvido para uso comercial no
próximo ano ou em dois", afirma Raghava Gollapudi, MD, então principal
pesquisador da Sharp HealthCare, uma das empresas envolvidas no estudo.
"Este seria um teste ideal para realizar na sala de emergência para
determinar se um paciente está à beira de um ataque cardíaco ou prestes a
sofrer um nas próximas duas semanas. Mas por agora só podemos testar
para detectar se um paciente acabou de sofrer um ou teve recentemente um
ataque cardíaco. "
Médico brasileiro questiona
O cardiologista Rui Fernando Ramos, diretor da Sociedade Paulista de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) não está tão otimista com o teste. Segundo ele, faltou avaliar mais pessoas que não tinham sofrido infarto para concluir, de fato, se elas poderiam apresentar previamente as mesmas deformidades nas células.
O cardiologista Rui Fernando Ramos, diretor da Sociedade Paulista de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) não está tão otimista com o teste. Segundo ele, faltou avaliar mais pessoas que não tinham sofrido infarto para concluir, de fato, se elas poderiam apresentar previamente as mesmas deformidades nas células.
"A minha crítica que vai para a pesquisa é que eles têm que fazer outra
experiência porque isso já envolveu pacientes infartados, entre os
quais foi notado que as células eram deformadas. Mas isso não quer dizer
que se eu for infartar daqui uma semana e colher o sangue hoje, minhas
células estarão deformadas. Eles não tiveram a capacidade de confirmar a
deformidade da célula no infarto agudo semanas antes da pessoa
infartar”.
Mas Ramos reconhece que o estudo vai além ao detectar o formato anormal
das células em pessoas que sofreram o infarto. Dado que pode ser
significativo na hora de analisar exames de sangue.
Não há exames disponíveis no Brasil que possam detectar precocemente um
infarto, segundo o médico. Por isso, a melhor maneira de manter-se
longe do risco é fazer exames períodicos, se tiver casos na família, e
cuidar do corpo e da alimentação, indica ele.
"Não fumar, fazer exercícios diários, manter uma alimentação saudável e
a pressão arterial e a taxa de gordura no sangue baixas ajudam a evitar
o acúmulo de gordura nas artérias".
Nova descoberta para o AVC
Um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, também divulgado nesta quarta, mostra um avanço em casos de AVC (acidente vascular cerebral). Pesquisadores da Escola de Medicina da universidade mostraram que a remoção de um conjunto de moléculas, que normalmente ajudam a regular a capacidade do cérebro para a formação e eliminação de conexões entre as células nervosas, pode ajudar consideravelmente na recuperação de um AVC até mesmo dias após o ocorrido.
O AVC, ou derrame cerebral, ocorre quando há um entupimento ou
rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro provocando a paralisia
da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea adequada, em
definição do Ministério da Saúde.
Em experiências com ratos, os cientistas demonstraram que quando estas
moléculas não estão presentes, a capacidade dos camundongos de se
recuperar melhorou significativamente.
Estes efeitos benéficos cresceram ao longo de uma semana após o AVC, o
que sugere que, no futuro, os tratamentos, tais como as drogas
concebidas para reproduzir os efeitos em seres humanos, podem funcionar
mesmo vários dias após ocorrer um acidente vascular cerebral.
Para Corey Goodman, especialista em desenvolvimento de drogas que
envolvem biotecnologia,o resultado da pesquisa é "animador". No entanto,
ele adverte que a mesma metodologia em humanos demanda mais esforços.
"Para levar isso em testes em seres humanos você precisa de uma
molécula que pode entrar no cérebro e isso é muito específico para os
tipos de moléculas testadas".
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