Brasília – A diminuição da desigualdade de renda na última década no
Brasil se assemelha ao movimento verificado no conjunto de todos os
países. De acordo com análise em andamento no Centro de Políticas
Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV), o índice de Gini (que mede
a desigualdade socioeconômica) caiu de 0,596 em 2001 para 0,519 em
janeiro de 2012 no Brasil. O mesmo indicador agregado para o mundo todo
caiu de 0,5448 para 0,52 no mesmo período.
“Aqui, no Brasil, a desigualdade cai porque a renda cresce no
Nordeste; e cresce mais entre analfabetos, negros, moradores de favelas,
campesinos e trabalhadores da construção. E no mundo? A desigualdade
cai porque a China e a Índia estão crescendo muito”, explica o
economista Marcelo Neri, chefe do CPS/FGV. Na opinião dele, a comparação
dos índices mostra que “o Brasil é uma maquete muito próxima do mundo”.
Semelhanças à parte, Neri chama a atenção para a diferença de
dinâmicas entre o Brasil, a China e a Índia. Segundo ele, na última
década, o Brasil diminuiu a desigualdade interna ao mesmo tempo em que
registrou crescimento econômico. Na China e na Índia (que concentram
metade dos pobres do mundo e onde o crescimento do Produto Interno Bruto
é maior que o crescimento do PIB brasileiro), a desigualdade “está
explodindo”.
Segundo Marcelo Neri, o Brasil espelha a desigualdade existente no
mundo porque “os mais pobres do Brasil são tão pobres quanto os mais
pobres da Índia; e os mais ricos brasileiros não são menos ricos do que
os mais ricos americanos. O Brasil está em todas as partes e ainda tem
muita desigualdade”, disse em entrevista à Agência Brasil, destacando que o país tem muitos problemas para atacar.
Para Neri, a desigualdade persistente faz com que o Brasil continue a
ser chamado, “por um bom tempo”, de “Belíndia” - termo criado pelo
economista Edmar Bacha na década de 1970 para dizer que o Brasil tinha
um pedaço rico e desenvolvido como a Bélgica e um pedaço pobre e
subdesenvolvido como a Índia.
Marcelo Neri acrescenta que a “Belíndia continua atual” porque hoje
“o lado pobre do Brasil cresce tanto quanto a economia da Índia; e o
lado belga [rico] está tão estagnado quanto os países europeus. A
Bélgica hoje é um país desenvolvido, mas estagnado. Ela é
predominantemente católica como o Brasil”, compara.
Segundo a análise feita pelo CPS/FGV, a renda dos 50% mais pobres no
Brasil cresceu quase seis vezes (580%) mais rápido do que a renda dos
10% mais ricos na década passada. A ascensão desse contingente, chamado
por Neri de “nova classe média”, explica em parte o crescimento
econômico recente. A economia cresce à medida que a desigualdade
acumulada diminui. “Boa parte dessa ascensão da classe média vem da
recuperação de atrasos históricos que ainda estão presentes, mas estão
passando”, aponta.
Na opinião do economista, os dados mostram que o Brasil “está
ficando um país normal”. Ele lembra que “em 1990, a gente tinha 17% das
crianças fora da escola; e em 2000, passou para 4%; e agora, o
percentual é menos de 2%”. Segundo ele, além da expansão do acesso à
escola, o país está entre as três nações que mais se destacam na
melhoria dos indicadores de aprendizagem.
A melhora do desempenho escolar ilumina “o lado brilhante da base da pirâmide”, descrito por Neri em seu novo livro A Nova Classe Média, lançado
na semana passada no Rio de Janeiro. De acordo com o economista, a
educação, juntamente com a redução da fecundidade das brasileiras e a
chegada de mais pessoas ao mercado de trabalho com carteira assinada,
explicam melhor a ascensão da classe média (classe C) do que a
dependência de políticas sociais e do crédito facilitado.
Uma das teses defendidas pelo economista é que o crescimento da nova
classe média “não é apenas sonho de uma noite de verão” e se a educação
continuar melhorando diminuirá ainda mais desigualdade. “Se fizermos o
dever de casa com a educação vai ser possível o Brasil continuar dando
salto”, avalia.
Por Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
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