A presença da família é importante durante todo o processo de tratamento da pessoa que apresenta dependência e fundamental também na etapa da reinserção social do ex-usuário de crack. Após o término da fase intensiva de tratamento e com o retorno ao meio familiar, o restabelecimento das relações sociais positivas está diretamente relacionado à manutenção das transformações.
Segundo Fátima Sudbrack, psicóloga e professora da Universidade de
Brasília (UnB), um dos primeiros passos para o processo de reinserção
social é evitar o isolamento do usuário. “É uma ilusão achar que só a
internação vai resolver o problema. Na verdade, a desintoxicação é só
uma parte do tratamento, pois o mais importante é a reinserção social. É
importante que o dependente saiba com quem pode contar”, explica.
É fundamental que a família reconheça que ele está em um processo de
recuperação de dependência, compreenda suas dificuldades e ofereça apoio
para que ele possa reconstruir sua vida social. “Durante o tratamento
os familiares e amigos podem e devem apoiar o dependente, se possível
com ajuda profissional. O principal risco para um ex-usuário é se sentir
sozinho, desvalorizado e sem a confiança das pessoas próximas”, diz
Fátima.
A capacidade de acolher e compreender, estabelecer regras claras de
convivência familiar, a demonstração de um interesse real em ajudar e de
compromisso com a recuperação, além do respeito às diferenças e da
manutenção de um ambiente de apoio, carinho e atenção, são atitudes que
contribuem para melhorar a qualidade de vida do ex-usuário e ajudam na
prevenção de recaídas. “De forma geral, no início é preciso exercer um
controle maior sobre as atividades do indivíduo, manter uma rotina mais
rigorosa, com acompanhamento. É preciso oferecer toda a ajuda possível,
manter uma proximidade maior. O que faltou antes vai ter que ser
fortalecido neste momento”, afirma o médico Mauro Soibelman, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É o chamado manejo
firme e amigável, expressão usada por psiquiatras especializados no
tratamento de dependentes químicos. “Não significa ser autoritário e
bruto, apenas firme no propósito de manter o usuário longe do crack”,
completa o especialista.
De acordo com Raquel Barros, psicóloga da ONG Lua Nova, é preciso dar
espaço para a pessoa recomeçar. “Não se trata de fazer de conta que
nada está acontecendo, mas de não focar a pessoa só nisso”, ressalta. A
procura por um trabalho e a volta aos estudos deve ser incentivada. “É
fundamental ocupar o tempo em que o dependente fumava crack com
atividades saudáveis, seja com estudos, trabalho, esportes ou
caminhadas”, diz Mauro Soibelman.
Hábitos sociais
Situações de convívio social fora do ambiente familiar tendem a ser
desafiadoras para o ex-usuário de crack. Para a psicóloga Fátima
Sudbrack, não é recomendado que a pessoa volte a freqüentar casas
noturnas, bares ou mantenha contato com amigos que fazem uso de drogas.
“Não podemos pedir que a pessoa abandone tudo o que fazia, mas é bem
difícil retornar a esses lugares e não voltar a consumir a droga”, diz.
O uso de drogas lícitas, mesmo de forma moderada, não é recomendado
pela maioria dos especialistas. “O cigarro é mais tolerável, apesar de
controverso. Mas o álcool é um grande problema. Mesmo em baixas doses, a
bebida alcoólica afrouxa as defesas do usuário e se torna um
facilitador para recaídas”, explica Soibelman. Para a psicóloga Fátima
Sudbrack, o dependente tende a compensar a ausência do crack com outra
droga mais acessível. “Fazendo o uso de álcool e outras drogas ele não
vai se recuperar, mas apenas buscar satisfação em outro produto”, diz.
Ex-usuária fala sobre o momento em que decidiu superar a dependência em crack (áudio)
Ex-usuário conta sobre o início de sua dependência em crack e como conseguiu se recuperar (aúdio)
Fonte: Brasil.gov.br
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